“Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou”
Questionavelmente atribuída a Einstein, esta frase faz bastante sentido quando pensamos no planejamento de percursos de aprendizagem. Muitos adultos que se colocaram na posição de professor – por vocação ou acaso – tiveram pelo menos uma experiência frustrante quando alunos. Uma experiência que não gostariam de repetir na posição de quem ensina.
Por isso, é importante repensar muito do que aprendemos a associar com educação, antes de montar um treinamento.
1. Entender não é aprender
Um dos maiores equívocos com o modelo de educação no qual a maioria de nós fomos educados é que ele tem mais foco em provas do que em aprendizados.
Aprendemos a decorar (na véspera) dados e informações que, um mês depois das provas, não lembramos mais. E porque esta foi a referência da maioria das pessoas, tende-se a achar que é o modelo “correto” de educação a ser reproduzido.
Mas este método, chamado de educação bancária por Paulo Freire, já é ineficaz na educação infantil – para adultos, com seus sistemas de crenças, valores, interesses e repertórios bem sólidos, é ainda menos proveitoso.
De acordo com a taxonomia revisada de Bloom, existem seis níveis cognitivos pelos quais o aprendizado acontece.
Entender e lembrar está na base da pirâmide. São importantes, mas o aprendizado acontece mesmo quando somos capazes de integrar aquele conhecimento e, em seu nível mais alto, criar algo a partir daquilo. Por isso, se desejamos que os alunos de fato aprendam, precisamos planejar o percurso de ensino de acordo com o que é esperado ele consiga criar.
2.Duração não é medida de qualidade
Outro equívoco frequente no planejamento de aulas e cursos é medir a qualidade pela duração – 300 horas, 48 semanas, 24 meses… como se quantidade de conteúdo fosse sinônimo de aprendizado retido. Não é.
Para que a informação seja de fato transformada em aprendizado, é fundamental, então, que a duração do curso (assim como toda a sua estrutura) seja pensada de acordo com os objetivos que se precisa atingir.
Além disso, há uma discussão recente sobre como a nossa capacidade de atenção se reduziu, por causa das redes sociais e quantidade de informações sobre as quais estamos sujeitos cotidianamente. Com base nela, muitos defendem que o conteúdo seja ensinado em formas de pílulas – alguns mais parecendo reels do que uma aula de fato.
Embora a atenção seja um problema real a se considerar ao definir a duração de um bloco de conteúdo, é importante lembrar que isso não fez com que as pessoas deixassem de maratonar séries, por exemplo. Pelo contrário.
Se pensarmos que, mesmo com esta batalha por uma atenção mais fragmentada, as grandes produtoras e distribuidoras de entretenimento audiovisual estão investindo em formatos maratonaveis e criando um bocado de séries que poderiam ter sido apenas um filme, com episódios de até duas horas de duração, dá pra perceber que a duração da aula não pode ser arbitrária – nem pra mais, nem pra menos.
Ou seja, se aula longa ou aula curta, tudo depende da estratégia que será usada!
3.Ferramentas simples funcionam
E podem ser muito mais efetivas do que aquele app ou powerpoint bonitão!
Eu sei. Parece que qualquer aula ou matéria precisa ter um conjunto de slides – seja para “mostrar o conteúdo”, seja para e o facilitador se lembre de tudo o que precisa falar.
Mas na prática, isso toma mais tempo do que realmente funciona.
No caso dos slides, montar uma boa apresentação, que não cause Morte por Powerpoint, requer bastante energia para filtrar as melhores informações, imagens e também habilidade para ir além dos modelos genéricos encontrados no Canva e afins.
Além disso, como explica David JP Philips, requer mais slides do que as pessoas normalmente usam.
Já os aplicativos e ferramentas online, que têm sido muito usadas em cursos e treinamentos à distância, caem em um problema similar.
Primeiro, é preciso filtrar entre tantas possibilidades. Então, vêm a curva de aprendizado, a necessidade de preparar os alunos para o uso da ferramenta, os recursos tecnológicos necessários para que tudo funcione bem e, ainda por cima, o custo de contratação.
Aqui na TrinaXP, não nos opomos ao uso dessas ferramentas de apoio. Elas podem ser bastante úteis em determinados casos.
Mas acreditamos que precisam ser usadas de forma estratégica, facilitando a transmissão do conteúdo e agilizando o tempo de preparo de cada percurso de aprendizagem.
4. Aula teórica pode ser interessante
Muita gente acha que a única saída para as aulas teóricas é o famoso sentar a bunda na cadeira, ler textos que beiram o incompreensível e escutar por horas uma aula expositiva, em que sequer o tom de voz varia.
De vez em quando, ler os textos densos e complexos será fundamental. Mas isso não quer dizer que é a única forma de se conduzir os alunos.
Se o objetivo é transmitir um conhecimento que julgamos importante, não só fazer com que a tortura seja passada pra frente, “só porque no meu tempo era assim e eu sobrevivi”, estratégias centradas na atividade do aluno precisam ser incorporadas.
Metodologias como aprendizado baseado em problemas ou perguntas, por exemplo, podem ser muito mais eficazes na retenção do conteúdo.
5. A aplicação é tão ou mais importante do que o conteúdo
Se você seguiu para a área das humanidades, provavelmente não se lembra mais das fórmulas que repetiu incessantemente nas provas de matemática e muito menos de tê-las usado quando adulta. Mas sem elas, muito daquilo que usamos no dia-a-dia não teria nem sido inventado!
Se uma teoria ou técnica é necessária pra quem está participando deu seu treinamento, é preciso pensar em exemplos que deixem isso o mais evidente possível. Quanto mais próximo da realidade de quem aprende, maior a atenção captada e, consequentemente, a retenção daquele conhecimento.
E se você quer realmente engajar os alunos, saia do papel de detentor do conhecimento para o de mediação: traga casos para serem resolvidos e solucionados e se coloque em uma posição de apoio e direção, em vez de só palestrar sobre o tema.
Quer construir experiências que transformam conteúdo em aprendizagem? Descubra como podemos te ajudar!